Publicado no Global Journal on Quality and Safety in Healthcare, estudo liderado pelos pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Dra. Helidea Lima e Dr. Leopoldo Muniz, investigou como a acreditação hospitalar influencia a cultura de segurança do paciente em hospitais brasileiros. A publicação ganhou destaque no editorial da revista, reforçando a relevância da pesquisa conduzida no Brasil.
O que significa acreditação hospitalar?
A acreditação hospitalar funciona como um selo de qualidade. Por meio dela, organizações independentes avaliam se hospitais seguem padrões rigorosos de segurança e qualidade. Esse processo é fundamental para garantir melhores práticas no atendimento e inspirar confiança nos pacientes. No Brasil, entretanto, menos de 5% dos hospitais possuem esse certificado, concedido por instituições como a Joint Commission International (JCI), ACSA (Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía), Qmentum International (Accreditation Canada) e a Organização Nacional de Acreditação (ONA).
Cultura de segurança do paciente: além das normas
Mais do que protocolos, a cultura de segurança do paciente reflete valores, atitudes e comportamentos de profissionais de saúde diante da segurança no cuidado. Inclui aspectos como a abertura para discutir erros, a comunicação entre equipes e o aprendizado com falhas. Em hospitais com uma cultura sólida, os profissionais se sentem seguros para relatar incidentes sem medo de punição, promovendo melhorias contínuas.
Como o estudo foi conduzido
Os dados da pesquisa foram coletados em setembro de 2022, envolvendo 68 hospitais da Rede D’Or. Cerca de 32 mil profissionais de diferentes áreas participaram, respondendo ao questionário Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC), adaptado para o português. O levantamento comparou percepções entre hospitais acreditados e não acreditados, sendo na época 80% das instituições certificadas.
A taxa de resposta foi muito alta: 91,4% dos profissionais contribuíram. Esse engajamento mostra a relevância do tema na Rede D’Or, que atualmente já conta com 90% de seus hospitais acreditados, sendo mais da metade com certificados de validade internacional.
Principais resultados
O estudo observou que a cultura geral de segurança do paciente obteve média de 65,1%. Pontos fortes como apoio da gestão (77,5%) e aprendizado organizacional (81,8%) foram positivamente avaliados. Contudo, os profissionais revelaram que ainda não há uma cultura de resposta não punitiva a erros, que teve apenas 43,2% de percepções positivas.
Ao comparar hospitais acreditados e não acreditados, as diferenças mais relevantes foram pequenas, sendo as instituições acreditadas 3% a 4% mais bem avaliadas nos quesitos “abertura para comunicação”, frequência de eventos relatados” e “percepção geral de segurança do paciente”.
O papel dos enfermeiros
Um destaque importante foi que os profissionais de enfermagem foram os que mais contribuíram com relatos de eventos de segurança, mostrando maior engajamento no fortalecimento da cultura de segurança do paciente. Já os médicos apresentaram maior resistência em reportar incidentes, o que evidencia a importância do papel da enfermagem como pilar na construção de ambientes mais seguros e colaborativos nos hospitais.
Apesar disso, uma porcentagem alta dos profissionais (41,9%) afirmou não ter relatado nenhum evento de segurança nos últimos 12 meses, especialmente em hospitais sem acreditação.
Impacto da acreditação e desafios persistentes
Os resultados indicam que a acreditação hospitalar tem impacto positivo na cultura de segurança, especialmente no estímulo à comunicação aberta e ao relato de incidentes. No entanto, as diferenças entre hospitais acreditados e não acreditados foram relativamente pequenas, sugerindo que a acreditação sozinha não é suficiente para transformar a cultura organizacional.
A maior fragilidade observada foi a resposta punitiva a erros. O medo de punições, a hierarquia rígida e a falta de retorno sobre os relatos ainda limitam o aprendizado organizacional. Outro desafio é a subnotificação: quase metade dos profissionais não reporta eventos, o que impede avanços mais consistentes na prevenção de falhas.
Segundo a Rede D’Or, a acreditação é um direcionador externo para avaliar a qualidade técnica de seus serviços hospitalares, sendo o monitoramento rigoroso de indicadores e a transparência na divulgação de resultados outras diretrizes para alcançar uma cultura de segurança mais robusta. O estudo confirma essa visão, ressaltando que investimentos em treinamentos, lideranças engajadas e sistemas de relato não punitivos são tão fundamentais quanto a acreditação para o alcance de avanços duradouros.
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Global Journal on Quality and Safety in Healthcare