O câncer de bexiga está entre os dez tipos de câncer mais comuns no mundo. O principal tratamento é a cirurgia para retirada da bexiga, e, apesar dos avanços alcançados com a terapia sistêmica, a recorrência da doença é frequente nas apresentações mais agressivas. Por isso, pesquisadores vêm buscando formas menos traumáticas e mais eficazes de combater a doença.
Um estudo com participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e publicado na Biochemical Genetics indica um caminho promissor para controle da doença: ao bloquear uma pequena molécula chamada miR-21, as células tumorais da bexiga perdem força para se multiplicar e se espalhar. A descoberta pode abrir caminho para futuras terapias menos invasivas e mais precisas.
O que é o miR-21 e por que ele importa no câncer de bexiga?
O miR-21 pertence a um grupo de moléculas chamadas microRNAs, que atuam como “interruptores” naturais dos nossos genes. Eles não fabricam proteínas diretamente, mas controlam o que será ou não ativado no DNA, como se fossem editores que decidem quais instruções do corpo serão lidas ou ignoradas.
No caso do miR-21, trata-se de um "interruptor" que, quando ligado em excesso, favorece o crescimento de vários tipos de câncer, incluindo os de cérebro, fígado, ovário, mama, próstata e também o de bexiga. Ele faz isso principalmente ao silenciar genes que funcionam como freios naturais do organismo contra a multiplicação de células descontroladas.
A relação entre miR-21 e os “freios” do câncer
No estudo, os cientistas investigaram o impacto do desligamento do miR-21 em células de câncer de bexiga cultivadas em laboratório. O alvo principal foi um gene chamado RECK, que age como um desses freios naturais. Quando o miR-21 está ativo em excesso, ele “desliga” o RECK. E com o RECK desligado, as células tumorais ficam livres para se multiplicar e invadir outros tecidos.
Ao inibir o miR-21, a expressão do gene RECK aumentou, e a enzima chamada MMP9, envolvida na destruição de tecidos e na expansão do tumor, foi reduzida. Desta maneira, as células cancerosas perderam capacidade de migração e formação de colônias, reduzindo a taxa de crescimento dos tumores.
Além dos testes em laboratório, os cientistas também analisaram dados de um banco genético público chamado CancerMIRNome, com amostras de pacientes reais. Os resultados confirmaram que o miR-21 aparece em níveis muito mais altos em tumores de bexiga do que em tecidos saudáveis, sendo assim, além de um alvo para novos tratamentos, um ótimo biomarcador diagnóstico.
Um futuro promissor
Os testes do estudo foram realizados in vitro, ou seja, em células imortalizadas, provenientes de tumores de bexiga de alto grau, portanto, ainda são necessários estudos mais aprofundados em modelos animais e em seres humanos. Contudo, os achados fornecem uma base sólida para novas abordagens terapêuticas no combate ao câncer de bexiga, especialmente nos casos mais agressivos, que hoje exigem cirurgias mais arriscadas. É uma esperança real de um tratamento mais eficaz e bem tolerado, para quem enfrenta esse diagnóstico.
Journal
Biochemical Genetics