image: Karina Xavier, group leader at GIMM.
Credit: GIMM
Uma equipa liderada por Karina Xavier, investigadora do GIMM, identificou um potencial novo agente bioterapêutico capaz de eliminar infeções intestinais e reduzir inflamação em modelos de Doença Inflamatória Intestinal (DII). O estudo, agora publicado na revista Nature Communications, demonstra que uma estirpe inofensiva da bactéria Klebsiella – descoberta de uma forma inesperada durante experiências laboratoriais – consegue restaurar o equilíbrio da microbiota e impedir a colonização por bactérias patogénicas.
A bactéria, denominada Klebsiella sp. ARO112, ARO em homenagem à estudante de doutoramento Ana Rita Oliveira, embora pertença ao mesmo grupo da conhecida Klebsiella pneumoniae, responsável por infeções hospitalares, é completamente não patogénica. Mais, em vez de causar doença, ajuda a recuperar a microbiota.
No laboratório, verificou-se que a ARO112 bloqueia bactérias causadores de doença, como Salmonella e algumas estirpes patogénicas de Escherichia coli e reduz patologias associadas à inflamação intestinal.
Neste novo estudo, conduzido por Vitor Cabral e Ana Rita Oliveira no laboratório da Karina Xavier, ratinhos com DII e com microbiota comprometida foram tratados com ARO112 após exposição a antibióticos e infeção por bactérias patogénicas, com resultados extremamente encorajadores: eliminação quase total da infeção; recuperação mais rápida da microbiota, permitindo o retorno de bactérias benéficas produtoras de metabólitos protetores; redução significativa da inflamação intestinal.
“Observámos eliminação total da infecção e drástica redução de patologias associadas à inflamação”, afirma Karina Xavier. “A bactéria não só removeu a infeção como acelerou a recuperação do ecossistema intestinal”.
A equipa comparou ainda a ARO112 com o probiótico comercial E. coli Nissle 1917, amplamente usado na Europa, que não mostrou efeito protetor neste contexto – reforçando a necessidade de probióticos ajustados a situações clínicas específicas.
Os investigadores fizeram vários testes de segurança, em colaboração com o laboratório de Carles Ubeda (Valência), e concluíram que a ARO112 não apresenta nenhuma das características das bactérias causadoras de doença, ou seja, não forma biofilmes e não adquire facilmente genes de resistência a antibióticos. Mesmo quando lhe foi dada artificialmente uma resistência, a bactéria perdeu-a naturalmente poucos dias depois. Além disso, a sua presença no intestino é temporária, desaparecendo à medida que o ecossistema recupera.
Por ser uma estirpe natural da microbiota, a equipe está a explorar estratégias para, no futuro, ser administrada após tratamentos antibióticos para reduzir infeções e inflamação, oferecendo uma alternativa precisa e segura a procedimentos como o transplante fecal. Reconhecendo este forte potencial de translação clínica, a equipa de Financiamento & Inovação da GIMM está a avançar no percurso de valorização do ARO112, incluindo a maturação tecnológica, a análise do enquadramento regulatório e a articulação estratégica com a indústria. “Os antibióticos são essenciais, mas perturbam a microbiota”, refere Xavier. “No futuro, poderemos acompanhá-los com bactérias benéficas como esta, para restaurar o equilíbrio intestinal.”
(*) Vitor Cabral, Rita A. Oliveira, Margarida B. Correia, Miguel F. Pedro, Marc García-Garcerá, Carles Ubeda & Karina B. Xavier (2025) Klebsiella ARO112 promotes microbiota recovery, pathobiont clearance and prevents inflammation in IBD mice. Nature Communications. DOI: 10.1038/s41467-025-67015-w
Artigo original: https://www.nature.com/articles/s41467-025-67015-w
Este trabalho foi desenvolvido na Fundação GIMM – Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, Portugal, em colaboração com o FISABIO e CIBER en Epidemiología y Salud Pública em Madrid, Espanha, e o Departamento the Microbiologia Fundamental da Universidade de Lausanne, Suíça.
2Departamento de Microbiologia Fundamental, Universidade de Lausanne, Lausanne, Suíça.
3FISABIO, Valência, Espanha.
4CIBER em Epidemiologia e Saúde Pública, Madrid, Espanha.
Este trabalho foi financiado pelos projetos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT-Portugal) [PTDC/BIA-MIC/6990/2020] (KBX) e [SFRH/BPD/116806/2016] (VC), bem como pelo Município de Oeiras através do Proof-of-Concept InnOValley 2022 [IOVPoC-2022-21] (VC) e por uma bolsa da Comissão Europeia [MSCA-IF-2018-843183] (VC). Adicionalmente, este projeto foi também financiado pelo InfectERA-ERANET através da bolsa da FCT-Portugal (InfectERA/0004/2015) (KBX) e pela bolsa de Ações Complementares [PCIN-2015-094] do Ministério Espanhol da Economia e Competitividade (CU) e pelo 7.º Programa-Quadro de Investigação da UE atribuídos a KBX e CU, respetivamente, bem como por uma bolsa do MICINN espanhol [PID2023-150086OB-I00] e da Conselleria d’Innovació, Universitats, Ciència i Societat Digital [CIPROM/2021/053], atribuídas a CU. Os dados de RMN foram adquiridos no CERMAX, ITQB-NOVA, Oeiras, Portugal, com equipamento financiado pela FCT, projeto AAC 01/SAICT/2016.
Sobre a Fundação GIMM
O Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM) é um novo instituto de investigação, nascido da fusão de duas das mais prestigiadas instituições biomédicas de Portugal – o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM). Com um forte compromisso em expandir os limites do conhecimento, desenvolver soluções inovadoras para a saúde e traduzir descobertas em impacto real, o GIMM pretende afirmar-se como um líder global em ciências da vida e investigação biomédica.
Journal
Nature Communications
Method of Research
Experimental study
Subject of Research
People
Article Title
Klebsiella ARO112 promotes microbiota recovery, pathobiont clearance and prevents inflammation in IBD mice
Article Publication Date
11-Dec-2025
COI Statement
GIMM has filed for a Provisional European Patent Application (EP23184673) regarding this work, in which Vitor Cabral, Rita A. Oliveira, and Karina B. Xavier are the inventors. Carles Ubeda has participated as a consultant of Vedanta Biosciences and The Zambon Group, but there is no direct overlap between the current study and these consulting duties. The rest of the authors do not have any competing interests.