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Comércio ilegal ou não-sustentável de vida silvestre afeta todos nós – o que podemos fazer?

Peer-Reviewed Publication

University of Helsinki

image: The green tree python (Morelia azurea) (New Guinea), a species collected and traded illegally as pet. view more 

Credit: Chien Lee

Plantas, animais, fungos, micro-organismos, bem como seus produtos e derivados, são comercializados no mundo todo como alimento, remédio, ornamentação, móveis, decorações etc. Eles também podem ser comercializados vivos, como animais de estimação, para pesquisa ou exibição em zoológicos, aquários e jardins botânicos.

Espécimes de vida silvestre também podem assumir diferentes papéis sociais e econômicos para as comunidades locais, sendo ali coletados e consumidos, ou  passados adiante numa complexa cadeia comercial que pode envolver vários países.

“Quando as pessoas pensam em comércio da vida silvestre, vem a sua mente o contrabando de marfim ou o comércio de animais selvagens de estimação, como por exemplo papagaios ou tartarugas. Mas o comércio de vida silvestre está mais presente na nossa vida cotidiana do que as pessoas      podem imaginar. Por exemplo, a madeira da mesa em que a sua família faz as refeições pode ser produto do comércio de vida selvagem”, diz Caroline Fukushima, pesquisadora do Museu Finlandês de História Natural (Luomus), da Universidade de Helsinque, na Finlândia.

O comércio de vida silvestre afeta outras espécies, inclusive a nossa

O comércio de vida silvestre pode ser legal, ilegal ou não regulado, bem como sustentável ou não-sustentável.

“Entretanto, as pessoas precisam estar cientes de que comércio legal não é sinônimo de comércio sustentável. Um espécime ou produto derivado de vida silvestre até pode ser comercializado legalmente, mas isso não quer dizer que tenha sido coletado ou produzido de forma sustentável. O comércio ilegal ou não-sustentável de vida silvestre (IUWT, sigla em inglês) representa um dos 5 maiores causadores de perda e extinção de biodiversidade em escala global”, diz Fukushima.

Além de afetar a espécie-alvo comercializada, o comércio de vida selvagem também afeta espécies com as quais a espécie-alvo interage. Em última instância, o comércio afeta os serviços ecossistêmicos das quais outras espécies, incluindo a nossa, dependem. Muitas vezes essas outras espécies são as maiores prejudicadas no processo, mesmo que isso passe despercebido.

“Espécies invasoras, doenças zoonóticas, conexão com corrupção e redes criminosas, repercussão negativa nas economias local e global, e promoção de injustiças sociais, econômicas e ambientais são apenas algumas das consequências negativas do comércio de vida silvestre quando não regulado ou controlado corretamente”, diz Pedro Cardoso, também do Luomus, e um dos pesquisadores liderando as publicações.

Cooperação é urgentemente necessária

Um grupo internacional de pesquisadores, conservacionistas, ativistas, agentes fiscalizadores e outros atores aderiram ao manifesto “Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade”, coordenado pela Alliance of World Scientists. O grupo discute o comércio ilegal ou não-sustentável da vida silvestre e alerta sobre o seu impacto negativo sobre o nosso bem-estar.

O grupo discute os desafios enfrentados no combate ao comércio ilegal ou não-sustentável da vida silvestre e propõe soluções práticas para vencê-los. Eles também chamam a atenção para a necessidade urgente de cooperação entre atores de diferentes áreas para frear as consequências negativas dessa atividade.

“Compreender as raízes culturais e os motivos que levam as pessoas a comprar espécimes silvestres ou produtos derivados das mesmas, bem como levar em consideração as nuances culturais e sociais desse consumo, são pontos essenciais e que nos permitirão desenvolver estratégias de conservação com mais probabilidade de serem bem-sucedidas.”, diz Caroline Fukushima.

Os autores ressaltam que ainda é necessário medir o alcance, a amplitude e o impacto do comércio de vida silvestre para toda a biodiversidade. As estratégias adotadas para frear o comércio illegal ou não-sustentável dependem do conhecimento acurado e confiável da biodiversidade, o que é gerado por cientistas e outros especialistas, incluindo cientistas-cidadãos e conservacionistas que trabalham em ONGs (organizações não-governamentais) em conjunto com as comunidades locais.

Frear o comércio ilegal ou não-sustentável da vida silvestre requer o engajamento de diferentes áreas como sociologia, economia, criminologia, marketing social e ciências da computação. A dimensão humana do problema precisa ser considerada em todas as fases do plano de conservação.

Já existem várias tecnologias e ferramentas disponíveis para análise, rastreamento, monitoramento e combate ao comércio ilegal e não-sustentável de vida silvestre. Entretanto, o seu crescimento demonstra que somente a lei e sua aplicação não são suficientes para coibir essa atividade. Educação é um fator-chave para a mudança de hábito do consumidor. Todos nós devemos nos engajar no combate ao comércio ilegal ou não sustentável de vida silvestre.

Quais são os riscos do comércio ilegal ou não-sustentável de vida silvestre (IUWT)?

  1. É um dos principais motivos que leva à extinção das espécies.
  2. A perda de espécies pode causar uma cascata de efeitos em outras espécies dependentes e seus ecossistemas.
  3. Facilita a invasão por espécies de outras regiões, bem como como a dispersão de doenças que elas podem carregar.
  4. Essa atividade, que também inclui a extração ilegal ou não-sutentável de madeira, pode afetar a regulação do clima, a polinização de plantações e outros serviços ecossistêmicos. 
  5. Essa prática alimenta o comércio de animais vivos, facilitando surtos causados por doenças zoonóticas e transmitidas por vetores que podem levar a pandemias globais.
  6. Redes criminosas estão profundamente envolvidas no tráfico de vida silvestre, alimentando a corrupção em países que fazem parte da rota de comércio desses organismos.
  7. Ele pode impactar a economia das comunidades locais que dependem da vida silvestre ou dos serviços ecossistêmicos que elas produzem.
  8. O comércio ilegal ou não-sustentável de vida silvestre e outras atividades criminosas associadas (incluindo evasão de impostos e lavagem de dinheiro) podem afetar a economia global.

 

O que nós devemos fazer para reduzir ou eliminar o comércio ilegal ou não-sustentável de vida silvestre?

Como conservacionista, legislador ou agente fiscalizador:

  1. Assegurar que o comércio de vida silvestre seja sustentável.
  2. Entender os aspectos culturais e sociais da demanda por vida silvestre, e desenvolver estratégias de combate sob me     dida.
  3. Ouvir, engajar e facilitar a liderança nas comunidades que dependem da vida silvestre.
  4. Requisitar melhor regulamentação e vigilância do comércio online de vida silvestre.
  5. Garantir que a legislação do seu país proteja a vida silvestre do comércio ilegal ou não-sustentável.
  6. Dar suporte à pesquisa científica e usá-la como base para estratégias de conservação e políticas ambientais.
  7. Tornar acessível a todos tecnologias e outros recursos para coibir o comércio illegal de vida silvestre.
  8. Criar uma rede internacional de profissionais com especialidade em diversos campos como biologia, perícia forense e regulamentação do comércio.

Como consumidor:

  1. Escolher produtos de fontes sustentáveis e legais, e promover iniciativas que assegurem que o comércio seja sustentável.
  2. Cobrar vontade política e financiamento de iniciativas que podem ser capazes de coibir o comércio ilegal ou não-sustentável de vida silvestre
  3. Conscientizar-se sobre o comércio ilegal ou não- sustentável de vida silvestre e reduzir ou mudar hábitos que possam prejudicar a biodiversidade.
  4. Não comprar produtos ou espécimes ilegais ou produzidos de maneira não-sustentável, seja em feiras, mercados, centros turísticos, online ou em qualquer lugar.
  5. Pensar duas vezes antes de curtir ou compartilhar em redes sociais publicações que mostram interações não naturais entre seres humanos e vida silvestre.
  6. Não estimular ou dar suporte a atrações turísticas ou trabalhos voluntários que oferecem interações entre seres humanos e vida silvestre.

Autores para contato:

Pedro Cardoso (pedro.cardoso@helsinki.fi) and Caroline Fukushima (caroline.fukushima@helsinki.fi), Museu Finlandês de História Natural, Universidade de Helsinque.

Outros autores:

Patricia Tricorache, Natural Resource Ecology Laboratory (NREL), Colorado State University, USA. orcID: 0000-0003-1493-1028

Adam Toomes, Invasion Science & Wildlife Ecology Lab, University of Adelaide, Australia. orcID: 0000-0003-4845-1073

Oliver C. Stringham, School of Mathematical Sciences, University of Adelaide, Australia. orcID: 0000-0002-4224-7090

Emmanuel Rivera-Téllez, National Commission of Use and Knowledge of Biodiversity (CONABIO), Mexico. orcID: 0000-0001-6340-8001

William J. Ripple, Department of Forest Ecosystems and Society, Oregon State University, USA.

Gretchen Peters, Center on Illicit Networks and Transnational Organized Crime (CINTOC), Washington, DC, USA.

Ronald I. Orenstein, wildlife conservationist from Ontario, Canada. orcID: 0000-0002-1194-3835

Carlos A. Martínez-Muñoz, Zoological Museum, Biodiversity Unit. University of Turku, Finland.

Thais Q. Morcatty, Oxford Wildlife Trade Research Group, Oxford Brookes University, Oxford, UK. orcID: 0000-0002-3095-7052

Stuart J. Longhorn, Arachnology Research Association, Birmingham, UK. orcID: 0000-0002-1819-3010

Chien Lee, Institute of Biodiversity and Environmental Conservation, Universiti Malaysia Sarawak, Malaysia. orcID: 0000-0001-9578-2305

Sabrina Kumschick, Stellenbosch University and Kirstenbosch Research Centre, South Africa. orcID: 0000-0001-8034-5831

Marco Antonio de Freitas, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brazil.

Rosaleen V. Duffy, Department of Politics and International Relations, University of Sheffield, UK. orcID: 0000-0002-6779-7240

Alisa Davies, World Parrot Trust, Hayle, Cornwall, UK.

Hubert Cheung, University of Queensland, Australia, and Atlas Conservation Initiative, Toronto, Canada. orcID: 0000-0002-5918-9907

Susan M. Cheyne, Oxford Brookes University, Oxford, UK. orcID:  0000-0002-9180-3356

Jamie Bouhuys, from Netherlands.


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